
Me lembro que quando comecei a falar que faria faculdade de moda, por volta de 2005 e 2006, muitas pessoas me diziam para fazer outro curso antes, algo que me desse dinheiro, para depois cursar o que eu queria. Alguns me olhavam com um olhar de certa surpresa, esses olhares permaneceram quando entrei no curso, outros me diziam que devia ser legal passar as aulas desenhando e folhando revista ou me perguntavam se era faculdade mesmo ou só um curso. Em resumo, poucos levavam a sério, tratavam como se fosse um hobby e até uma futilidade. E eu sempre rebatia revoltada: acham que a moda não é importante? Por que não andam pelados?
Bom, atualmente eu posso argumentar ainda melhor, moda não é futilidade. Se existe gente fútil dentro dela, ou consumindo ela? Claro que sim, mas a futilidade está nas pessoas, não na moda. O vestuário é algo que está inserido no nosso cotidiano o tempo todo, nos protege do frio, dá conforto e claro serve também como forma de adorno. Podemos falar através do que vestimos, nos diferenciar, nos aproximarmos, tratar de autoestima, são infinitos os pontos a se tratar quando falamos da importância das roupas. Estudamos e trabalhamos muito para entregar o melhor, tem desenho de criação, tem desenho técnico, tem pesquisa em revista, em livros, na internet, nas ruas, tem modelagem, costura, produção, tem escrita e muita leitura, tem conhecimento das cores, da história, dos tecidos, dos tingimentos e muito mais, seria um texto longo detalhar um curso de 4 anos, sendo que a faculdade, é só a ponta do iceberg.
Quando eu penso em moda, muito longe da futilidade, eu penso na responsabilidade, que é de todos nós, quando se trata desse assunto. Os profissionais da moda precisam se preocupar em que mensagem estão passando com suas criações, em que impacto a produção em massa traz para o nosso planeta, quem fabrica essas roupas e em que condições e também, para quem estamos ofertando. Existem problemas como a exclusão de pessoas por conta do corpo, poluição do meio ambiente e trabalho escravo nas fábricas, e estes são só alguns pontos negativos, que infelizmente a indústria têxtil tem carregado nos últimos anos, portanto que tremenda responsabilidade tem esses profissionais que escolheram estudar e trabalhar com moda.
Mas como falei anteriormente, a responsabilidade de fato, é de todos nós. Enquanto consumidores, o quanto nos preocupamos de fato em que condições são feitas nossas roupas? Quantos de nós param para pensar o que há por trás de roupas baratas e/ou lançamentos sazonais cada vez mais acelerados?
Portanto, se a moda muitas vezes é colocada na prateleira da futilidade e não tem sua devida importância reconhecida, é porque falta muitas vezes a consciência de fabricantes e consumidores que não vale tudo por uma roupa nova e que há mais para pensar entre criação e consumo, do que tendência, é preciso pensar sobre impacto, no planeta e nas pessoas.
Ainda pretendo falar aqui, sobre cada ponto a ser repensado no mundo da moda. Mas ficam já algumas ideias sobre o que refletir: impacto ao meio ambiente, respeito por quem trabalha, respeito por quem consome. Para quem quer assumir suas responsabilidades, há muito trabalho pela frente!
Excelentes reflexões!
Um ponto que sempre reflito, é que não estou habituada a “investigar” a cadeia dos produtos que consumo.
Quando ouço falar de exploração por parte de alguma marca, evito o consumo da mesma…. mas acabo deixando essa busca por informação por conta da mídia.
Temos que estar cada vez mais conscientes!
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